22.1.07

Desmistificar ideias feitas sobre o aborto - II


“O aborto é a opção da mulher moderna em situações de dificuldade económica, afectiva ou social.”

Vivemos numa época de materialismo e facilitismo exacerbado. A solução mais fácil para um problema acaba por ser, mais tarde, muito mais complicada. Quem acha que a liberalização aumentará a qualidade de vida das mulheres é porque não conhece a verdadeira dimensão do problema. Eu já trabalhei numa prisão feminina e numa associação de apoio a grávidas “de risco”. Sei o sofrimento de quem passa por situações destas, mas também sei os benefícios incontáveis para quem tem a coragem de enfrentar os problemas de frente. E só uma mão amiga pode ser a ajuda que separa a vida saudável e regeneradora, da morte irreversível.
Desenganem-se as mulheres e homens que pensam que a vitória do “Sim” irá desculpar acções passadas. Quem já cometeu um erro terá de viver o resto da vida com isso. O referendo (e esta discussão) têm relação com o futuro apenas. Por outro lado, é preciso salientar que as leis humanas são falíveis e só a consciência primordial dos homens pode separar o bem do mal. Devemos formar, informar e sobretudo reflectir. Não nos esqueçamos também que, mais do que ninguém, os católicos têm o dever de proteger, cuidar, acarinhar e perdoar.

O ser humano que está presente no ventre da mãe às dez semanas é real, independente e está vivo. Pode ainda não ser bonito como daí a mais algumas semanas, mas não é por isso que deixa de merecer nascer. Pode ainda não ter os padrões de consciência que o fará agir e estar como um homem dos nossos dias, mas não é por isso que alguém o deve condenar à morte. Portugal foi o primeiro país do mundo a abolir a pena capital. Passados estes anos todos, iremos cair no erro de voltar a aceitar que podemos matar? Será este um sinal de civilização e modernidade?
Chamo a atenção para um facto muito simples e concreto: depois do último referendo do aborto, os movimentos pelo “Não” criaram múltiplas associações e organizações para apoiar as grávidas em circunstâncias difíceis e crianças com problemas: os movimentos pelo “Sim” não fizeram qualquer esforço social nesse sentido. - É esta a preocupação altruísta destes senhores: limitaram-se a esperar oito anos para que houvesse novo referendo. É esta esquerda hipócrita e malfeitora que temos.

Diogo Dantas